A crise política e econômica da qual o Brasil está se recuperando provocou estagnação e prejuízos em diversos setores, mas o mercado de empreendimentos de luxo não foi um deles. Aparentemente imune às intempéries, a força do segmento é demonstrada pelo número cada vez maior de empresas que investem na construção de apartamentos cujos valores se medem aos milhões.
Parte da explicação para o fenômeno reside no fato de que o número de milionários no País está em crescimento. O banco Credit Suisse estima que até 2022 o Brasil deverá ter 296 mil pessoas com esse perfil, crescimento de 81% em relação aos 164 mil atuais. É esse público, em grande parte, que movimentou o ramos de apartamentos de luxo em São Paulo, cidade onde foram lançadas ao menos 30 unidades residenciais com apartamentos de mais de 500 metros quadrados neste ano, segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi) daquele Estado.
O agente autônomo de investimentos da Vertente Capital, Marcelo Estrela, acredita que essa realidade também se aplica no cenário regional. Ele analisa dados fornecidos pela Anbima – (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que mostram que no terceiro trimestre de 2017, 6.412 clientes do Centro-Oeste possuíam R$ 25,5 bilhões aplicados no mercado de capital líquido.
“Como estamos em uma região conservadora para o mercado de capitais e que naturalmente tem aptidão para investimentos ilíquidos como o agronegócio e o mercado imobiliário, a migração desses recursos já está acontecendo. Juros baixos causam incômodo nos investidores. Com isso, títulos e fundos de renda fixa são os primeiros a serem resgatados”, disse.
O cenário analisado por Estrela integra o Relatório Consolidado de Private Banking, que levanta dados de pessoas que possuem mais de R$ 3 milhões aplicados em alguma instituição financeira. A Anbima reúne informações de bancos comerciais, múltiplos e de investimento, asset managements, corretoras, distribuidoras de valores mobiliários e consultores de investimento.
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No alto
Em Goiânia, a tendência não é diferente. Um dos símbolos da resiliência dos empreendimentos de luxo na cidade é a construção do Kingdom Park Residence, ao lado do Parque Vaca Brava. A torre, com tecnologias inovadoras, terá um dos maiores apartamentos da capital, com 482 metros quadrados e será o residencial mais alto do Centro-Oeste, com 175,09 metros de altura, correspondente a 52 pavimentos. A obra já chegou à 28ª laje.
Paulo Silas, diretor da Sim Engenharia e Empreendimentos – uma das empresas responsáveis pelo projeto, ao lado da MA Incorporadora – afirma que, por enquanto, não há sinais de saturação. “O mercado de moradias de luxo em Goiânia é ancorado, em boa parte, pelo agronegócio e pelo setor industrial em expansão. Outra evidência são os condomínios fechados em expansão”, destaca.
Os números confirmam a impressão do incorporador. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima para Goiás uma produção total de 21,39 milhões de toneladas safra de grãos 2017/2018. A produção equivale a quase 10% da safra nacional, sendo o Estado o quarto maior produtor de soja, sorgo, tomate e alho no País. É também o segundo maior criador de vacas leiteiras e o 3º de bovinos. Na produção industrial, o Estado superou a média nacional em crescimento de janeiro a outubro deste ano – o crescimento foi de 3,5% ante 1,9%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Paulo explica que o intuito da Sim Incorporadora é atender a uma demanda que já existe na capital. “Existe uma parcela da população que foi para os condomínios horizontais em casas com medidas acima de 500 metros quadrados. Diante do trânsito caótico e da necessidade de se ter mais praticidade, não quer reduzir o espaço e o conforto, nem abrir mão da segurança”, pontuou.
Para o diretor, os investimentos feitos por várias incorporadoras no mercado de luxo mesmo no período de crise indicam o crescimento do setor. Com a recuperação da economia, diz ele, a tendência é haver ainda mais oportunidades de lançamentos.
Em terra
Dentro dessa mesma perspectiva, o diretor da URBS RT Private, Leandro Chaer, confirma também os bons ventos para o mercado no que diz respeito aos lotes em condomínios horizontais, uma vez que a comercialização de casas de alto padrão está aquecida. Segundo o empresário, a velocidade de vendas mantém a média de 12 meses, para casas de até R$ 1,5 milhão. O que é considerado um excelente prazo. “O público que consome alto-padrão tem um perfil diferente, são normalmente empresários que não são assalariados, o que caracteriza uma certa imunidade à crise”, pontua.
(Com texto de Lorena Lázaro)