O Programa Nacional de Imunização (PNI), formulado em 1973, é referência mundial. O Brasil foi pioneiro na incorporação de diversas vacinas no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS) e é um dos poucos países no mundo que ofertam de maneira universal um rol extenso e abrangente de imunobiológicos. Porém, a alta taxa de cobertura, que sempre foi sua principal característica, vem caindo nos últimos anos, inclusive para crianças pequenas, colocando em alerta especialistas e profissionais da área.
O farmacêutico hospitalar Renato Antônio Campos Freire, que vai inaugurar uma clínica de vacinação no Órion Shopping, em Goiânia, explica que na infância as crianças não têm imunidade e não conseguem combater sozinhas as doenças, por isso a vacinação é essencial. “Geralmente, até os dois anos os pais são mais cautelosos, depois relaxam. Mesmo para as vacinas gratuitas não vão”, diz ele. O especialista afirma que datas como o Dia Nacional da Imunização são importantes, pois lembram as pessoas da ação e reforçam que a vacina não é proteção apenas individual. “Dependendo da doença e da região, se 80% da população é vacinada, os outras 20% também ficam protegidos”, diz.
Segundo dados preliminares do ano passado do Ministério da Saúde, divulgados em março deste ano, pela primeira vez desde 1994 – quando começou a disponibilização de dados – o País não atingiu a meta de vacinar 95% do público-alvo em nenhuma das 15 vacinas do calendário público. Isso inclui a cobertura vacinal em crianças de até 1 ano, a qual também está em queda no Brasil. A taxa de vacinação da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, passou de 102,3% em 2011 para 90,5% em 2018, segundo dados divulgados oficialmente em 2019. O número está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 95% da meta estipulada.
Ainda de acordo com esse estudo, a taxa da poliomielite, contra paralisia infantil, caiu de 101,3% em 2011 para 86,3% em 2018. A cobertura vacinal da BCG, contra formas graves da tuberculose, era de 107,9% e também caiu para 95,6%, no mesmo período. O problema se estende para a meningocócica C, que antes tinha uma taxa de 105,6% e passou a ter apenas 85,6% de cobertura vacinal. Renato Freire que também é mestre em tecnologia farmacêutica, explica que a estimativa dos órgãos de saúde para uma campanha de vacinação é baseada nos anos anteriores e quando esse número é ultrapassado a meta passa de 100%.
Renato salienta que há vacina em todas as idades. “Para adolescentes, por exemplo, temos a HPV, reforço de DPT meningite, para adultos temos a hepatite e a pneumonia, e para idoso, além da gripe, muito conhecida, temos a herpes zoster, para pessoas a partir de 50 anos”. “A diferença das vacinas chamadas obrigatórias das sugeridas é que as primeiras o governo fornece gratuitamente, principalmente na fase infantil. Mas existem outras vacinas também para outras faixas etárias, que são recomendadas pelos profissionais da saúde, que são muito importantes. Se a pessoa tem condição, ela deve adquirir para preservar a saúde”.
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Queda é preocupante
O especialista vê de perto a queda dos números dos dados oficiais. “Temos uma preocupação com essa negligência, a população tem que ter consciência, não só o poder público. Quando se deixa de vacinar está contribuindo com a volta da doença e se gasta mais também, pois a cada um dólar investido em prevenção se economiza, em média, 16 dólares no tratamento”, ressalta ele, que reforçou que a vacinação é um tecnologia avançada para atuar antes da contaminação.
Coronavírus
Sobre os estudos acerca de uma vacina para o novo coronavírus (Sars-Cov-2), Renato Freire, que atua na área há 25 anos, também mostra animação. “Estou otimista, pois vejo algo que não acontece há anos, o compartilhamento de informações. Os laboratórios têm segredos, que não costumam revelar para os concorrentes, por isso, normalmente, pode-se levar até cinco anos para produzir uma vacina, mas já estamos na terceira fase”, disse se referindo a vacina em desenvolvimento na Universidade de Oxford, no Reino Unido, que iniciou a etapa de testes em humanos na última semana.
Pelo menos dez mil pessoas serão vacinadas para averiguar a eficácia do produto. Para que essa terceira fase, da testagem maciça, não leve muito tempo, Oxford conclamou 18 centros de pesquisa em todo o Reino Unido a testar o imunizante, entre eles o de Liverpool, comandado pela imunologista brasileira Daniela Ferreira. Do total, duas mil dessas vacinas serão testadas no Brasil a partir da próxima semana, no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Normalmente, os testes em humanos podem levar até seis meses. No melhor cenário, se tudo ocorrer bem, podermos ter uma vacina até o final do ano. Porém, depois ela ainda precisará ser produzida em larga escala para beneficiar todos”, explica Renato Antônio.
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