A professora da UFG (Universidade Federal de Goiás), Luísa Carvalheiro, assinou uma pesquisa publicada recentemente no periódico Science Advances sobre algumas das principais lavouras tropicais do mundo, incluindo os cafezais e cacaueiros do Brasil, correrem risco de ficar sem os insetos que polinizam suas flores por causa da crise climática. Coordenado por Joseph Millard, do Museu de História Natural de Londres, o estudo também tem assinatura de Felipe Deodato da Silva e Silva, do Instituto Federal de Mato Grosso.
Ainda conforme a pesquisa, os países cuja produtividade agrícola tem mais chance de ser afetada são, além do Brasil, a China, a Índia, a Indonésia e as Filipinas. Além do cacau e café, frutas como a manga e a melancia estão na lista das que podem sofrer com a falta de polinizadores. Isso por que, a abundância desses animais, cuja presença é essencial para a produção de uma grande variedade de frutos, pode cair para menos da metade num planeta mais quente.
Para chegar nessa previsão, o estudo cruzou dados sobre 2.673 localidades do planeta e 3.080 espécies de insetos polinizadores, aqueles que levam pólen de uma flor para outra. Diferente do que muitos pensam, não são só abelhas. O “trabalho” também inclui besouros, borboletas e outros que ajudam na reprodução de muitas plantas que não são capazes de fecundar a si mesmas.
A pesquisa afirma que, aumentos de temperatura entre 1,5°C e 3°C (em relação às temperaturas médias antes do uso de combustíveis fósseis no mundo) até o fim deste século já seria o suficiente pra mudar a realidade do planeta, de uma forma ruim, no caso.
“E essa mudança rápida pode ser ainda mais acentuada no caso de plantas que dependem de polinizadores com características muito específicas. Por exemplo, o tomate e o pimentão precisam ser visitados por abelhas que tenham capacidade de vibração para que efetivamente ocorra a polinização. Já o maracujá precisa de abelhas bem grandes, e essas são as que mais vão sofrer com o aquecimento global”, afirmou Luísa Cavalheiro em uma reportagem publicada pela Folha de S.Paulo.
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“No entanto, os polinizadores fazem o seu trabalho gratuitamente, enquanto a polinização manual requer mão de obra humana, o que leva a um aumento de custos […] Outra prática que é cada vez mais usada é o aluguel de caixas de abelhas, cujo preço tem subido cada vez mais. Além de trocarmos, do mesmo, um serviço gratuito por algo pago, o número de espécies manejadas nesse sistema é pequeno —a abelha europeia Apis mellifera é a mais comum. Mas, para muitas culturas, essas espécies não têm os atributos adequados para atuar como polinizadoras”, conclui a especialista.