Em 2016, a entrada do aplicativo de transporte individual UBER atraiu milhares de motoristas que aderiram ao sistema, inclusive alguns taxistas. Por outro lado, por causa da renda menor do que no táxi, outros tem feito o caminho inverso. É a história de Murilo Félix que aderiu ao aplicativo em novembro, mas retornou ao táxi ao perceber que estava ganhando apenas R$0,90 centavos por quilômetro rodado.
“É só a UBER que ganha dinheiro”, disse ele. Ele reclama que tinha que rodar muito para equivaler ao que tinha de renda no táxi. A Uber foi só ilusão. Quando entrei ganhei dinheiro, já no segundo mês caiu bastante. O táxi você “rala”, completou.
ENTREVISTA – Murilo Félix, motorista de táxi.
Altair Tavares: Você voltou para o táxi quando?
Murilo Félix: Está fazendo um mês.
Altair Tavares: Quando você deixou o táxi e foi para a Uber?
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Murilo Félix: Foi no final de novembro, dia 22.
Altair Tavares: Naquele momento você estava preocupado com a queda do número de passageiros e achava que seria melhor ir para a Uber?
Murilo Félix: Isso.
Altair Tavares: Como motorista, porque você deixou a Uber e voltou para o táxi?
Murilo Félix: É só a Uber que ganha dinheiro. Eu fiz os cálculos quando estava na Uber, o quilômetro que rodamos é R$ 1,25, ainda tem 25% de desconto que seria a tarifa da Uber, e cai para 90 centavos o quilômetro rodado. Eu fui fazer os cálculos e eu não estava ganhando dinheiro.
Altair Tavares: No táxi, qual é o resultado que você consegue?
Murilo Félix: No táxi é bem melhor, a tarifa é mais alta, dá para cobrir as despesas de almoço, com o carro e acaba sobrando dinheiro a mais para você e trabalha menos do que na Uber. A Uber foi só ilusão. Quando entrei ganhei dinheiro, já no segundo mês caiu bastante. O táxi você “rala” dia e noite e cai dinheiro qualquer hora, bem diferente do sistema da Uber.
Altair Tavares: Qual a renda líquida do quilômetro rodado por taxistas?
Murilo Félix: Por quilômetro rodado você acaba ganhando R$ 3, R$ 2.
Altair Tavares: Como você analisava a concorrência enquanto estava na Uber?
Murilo Chaves: Quando você entra, ele te manda muita corrida, você realmente não para, é o tempo todo com corrida, com passageiro, e no mês seguinte já não foi assim. Cheguei a ficar parado em algum lugar de Goiânia duas horas sem fazer nada, devido à quantidade de Uber que tinha ao meu redor.
Altair Tavares: Ou seja, com mais oferta de veículos você ficava para trás.
Murilo Félix: Sim.
Altair Tavares: Quantos veículos cadastrados na Uber tem em Goiânia?
Murilo Félix: Eles falam que cadastrados são oito mil, mas rodando em Goiânia o dia inteiro devem ser dois mil.
Altair Tavares: Qual a visão de outros motoristas do Uber?
Murilo Félix: Que realmente não está bom, a maioria está desistindo.
Altair Tavares: Se nesse momento a gente considerar que foi o pagamento em dinheiro que deu um grande impulso para que mais clientes usassem o Uber, você considera esse tipo de pagamento vantajoso?
Murilo Félix: Não foi vantajoso porque acaba puxando a atenção de assaltantes. Os assaltos estavam ocorrendo de maneira mais frequente e já tive vários de amigos que foram assaltados na Uber e acaba que você ganhava dinheiro e no final do dia você não ia o dinheiro. O melhor mesmo era o cartão [de crédito].
Altair Tavares: Você voltou para o táxi e vai continuar nessa concorrência? Porque caiu o volume de passageiros de táxi.
Murilo Félix: Isso, voltei porque eu procuro melhorar o serviço de táxi cada dia mais. O passageiro quer conforto, e eu estou trabalhando em cima disso para trazer os passageiros de volta.
Altair Tavares: Se as empresas de táxi abaixarem o valor da tarifa ajudaria?
Murilo Félix: Bastante. Mas em relação a abaixar a tarifa, é a Prefeitura que tinha que acabar um pouco com essa máfia de táxi. Tem gente que tem muitas concessões de táxi, que não precisava ter, e como eu sou auxiliar eu pago um valor de R$ 150. Isso acaba sendo repassado aos passageiros. E somos fiscalizados. Quem realmente precisa trabalhar em táxi, tem um táxi, a tarifa poderia cair pela metade.