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Safernet: Baleia azul,  “fake news” e efeito contágio

A Safernet é uma organização social que orienta e divulga ações de segurança na internet para diversos públicos. A nova recomendação foi motivada pelo apelidado “jogo da baleira azul” e os efeitos que são mostrados pelos meios de comunicação contra adolescentes.

Em uma publicação no Facebook, a organização avalia que os meios de informação deram um tratamento inadequado ao caso recente da “baleia azul” ao afirmar que “ao contrário do que muitos crêem, esse jogo não é um fenômeno novo e desconhecido”.

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Segundo a Safernet, “A Safenet da Bulgária, por exemplo, apontou como origem dos rumores uma matéria falsa (fake news) publicada na Rússia em 15 de março de 2016, e que afirmava que 130 adolescentes russos já haviam se matado depois de participar do suposto “jogo” através de uma rede social russa”.

A divulgação sobre o “novo jogo”, segundo a Safernet, foi publicada com tratamento inadequado com orientações para o jovem entrar na rede

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RECOMENDAÇÕES DA SAFERNET

“Jogo” do Suicídio: nossas recomendações para a imprensa e alerta aos pais

A SaferNet Brasil vem acompanhando com grande preocupação as notícias sobre o suposto “game” que incentiva auto-mutilação, suicídio e outras situações de risco entre adolescentes na Internet. Nos últimos dias relatos sobre a proliferação de grupos no WhatsApp e nas redes sociais tiveram grande repercussão com a cobertura da imprensa e tem causado pânico e alarde entre pais e a comunidade em geral.

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Ao contrário do que muitos crêem, esse “jogo” não é um fenômeno novo e desconhecido. A Safenet da Bulgária, por exemplo, apontou como origem dos rumores uma matéria falsa (fake news) publicada na Rússia em 15 de março de 2016, e que afirmava que 130 adolescentes russos já haviam se matado depois de participar do suposto “jogo” através de uma rede social russa.

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No Brasil a repercussão dessa notícia falsa, em tom alarmista, pelo telejornal de uma grande emissora na TV aberta, fez com que aumentassem as buscas no Google pelo suposto jogo em mais de 1.000%. Em um erro de abordagem, a matéria mostrou com detalhes e de forma “didática” como se engajar nessas comunidades e quais eram os “desafios” para chegar até o fim do “game”.

Muito antes da Internet comercial existir, o jornal The New York Times publicou, 1987, uma matéria sobre como o efeito contágio (ou efeito Werther – que é o termo científico pelo qual a publicidade de um caso emblemático de suicídio serve de estímulo a novas ocorrências), gerou novos casos de suicídio entre adolescentes e jovens nos EUA. A matéria está disponível neste link: https://www.nytimes.com/…/pattern-of-death-copycat-suicides-…

A Organização Mundial da Saúde (OMS) editou, em 2000, um manual de prevenção ao suicídio com várias recomendações claras para a abordagem da mídia em casos de ocorrência de suicídio. Checar as fontes da informação, esclarecer de forma responsável a população, evitar abordagens sensacionalistas e focar em cuidados e prevenção é o que se espera do jornalismo profissional. O manual está disponível neste endereço: https://apps.who.int/…/10665/67604/7/WHO_MNH_MBD_00.2_por.pdf

Com o poder de disseminação e rápido alcance da informação ou a falta dela, precisamos agir com cautela e responsabilidade para não provocar uma onda de pânico como a que estamos assistindo nos últimos dias no Brasil.

Conteúdos e fóruns online e grupos em aplicativos de troca de mensagens que incentivam formas de automutilação e suicídio existem sim na Internet e sempre foram reportados por muitos usuários. Em pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 11% de crianças e adolescentes relataram terem tido acesso às páginas que ensinavam formas de se machucar e 6% de cometer suicídio, isso representa mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes no Brasil.

Esses dados preocupam, e por isso fazemos um apelo para que os veículos de imprensa e influenciadores digitais engajados neste debate público, levem em consideração as recomendações da OMS para a prevenção do suicídio.

Sobre o fenômeno “baleia azul”, é importante esclarecer:

– “Game” ou “Jogo” não é o nome mais apropriado para nomear o fenômeno; não se trata de um aplicativo, programa de computador, serviço ou plataforma online que possa ser acessada. As evidências coletadas no Brasil indicam a existência de grupos em aplicativos de troca de mensagens e comunidades e fóruns em redes sociais, que se intitulam como nome de jogo ou game, e que foram criadas a partir da repercussão, no Brasil, da notícia falsa e alarmista originada na Rússia;

– O nome do “jogo” já viralizou na Internet e não faltam hashtags e fan pages. Entre os grupos, deve-se separar aqueles com indivíduos que estão efetivamente cometendo o crime de induzir, instigar ou auxiliar o suicídio de alguém, tipificado no Art. 122 do Código Penal, daquelas que foram criados como consequência da onda de alarde e para “causar” ou fazer trollagem;

– Se você faz parte de algum veículo de notícias ou é um influenciador digital, saiba que sua abordagem e as informações que você veicula interferem na proporção e propagação desse fenômeno no Brasil. Veicular detalhes, nomes, exemplos e outros recursos para atrair a atenção e estimular a curiosidade, ainda que mórbida, só contribui para o surgimento de mais páginas e conteúdos oportunistas sobre o assunto.

– É precipitado estabelecer um nexo causal entre a existência de um “jogo” e a ocorrência de casos concretos de suicídio. Ainda que hajam relatos de casos concretos de suicídio relacionados a alguma atividade de grupos e comunidades online, o suicídio é um fenômeno complexo, multifatorial e de difícil simplificação, e deve ser encarado como uma questão de saúde pública, e não apenas de segurança pública.

– A família, a escola, o poder público e a sociedade em geral deve dar atenção aos grupos mais vulneráveis da população, sobretudo adolescentes com histórico de depressão, tentativas de suicídio e outros sofrimentos psicológicos graves; não devemos, jamais, minimizar ou subestimar o que eles falam. Por isso, diante de sinais de angústia e sofrimento, vale uma conversa com um profissional, que saberá indicar o tratamento adequado.

– Proibir o acesso a Internet pelos filhos, confiscar celular e monitorar o uso de aplicativos através de programas “espiões” são medidas pouco educativas e fadadas ao fracasso. Elas não previnem os riscos e compromete o vínculo de confiança que deve existir entre pais e filhos. A tentativa de eliminar qualquer exposição a riscos em espaços públicos como a Internet é praticamente impossível, e os pais e a Escola precisam conversar de forma franca e aberta sobre como os adolescentes podem lidar e responder a esses riscos. É parte do desenvolvimento saudável – e preparação para a vida adulta – que o adolescente desenvolva habilidades para lidar com os riscos à sua volta, isso se chama resiliência, que só pode ser desenvolvida enfrentando riscos num ambiente onde ele possa pedir ajuda e com espaço para falar sem pré-julgamentos e reprimendas.

A SaferNet oferece um serviço gratuito de escuta, acolhimento e orientação especializada destinado a crianças, adolescentes, pais e responsáveis que estejam vivenciando alguma situação de risco ou violência online. A nossa equipe de psicólogos está disponível das 14h às 18h através de chat ou por e-mail, acesse -> www.canaldeajuda.org.br

Altair Tavares: