Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na noite de terça, 24, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), fez um duro discurso que deixou claro o rompimento político. Em fala inicial, o goiano informou que a quarentena continua.
Caiado abriu sua fala citando Barack Obama: “Na política e na vida, a ignorância não é uma virtude”. E continuou: “Com autoridade de governador e juramento de médico, as decisões do Presidente da República não alcançam Goiás. Isso posto, as regras que prevalecerão serão as regras do meu decreto, seguindo critérios regulados pela Organização Mundial da Saúde e pelo corpo técnico do Ministério da Saúde”.
“Fui aliado de primeira hora, durante todo tempo. Não posso admitir que o presidente venha agora e lave suas mãos“
Ronaldo Caiado, governador de Goiás, ao presidente Jair Bolsonaro
Como médico, o governador expressou toda sua indignação com o tom de menosprezo à seriedade da pandemia que permeou o pronunciamento do presidente da República. Em sua avaliação, tratar o coronavírus como uma simples ‘gripezinha’ é um ato, ressaltou, “de extrema irresponsabilidade”.
“Fui aliado de primeira hora, durante todo tempo. Não posso admitir que o presidente venha agora e lave suas mãos, responsabilizando outras pessoas por um eventual colapso. Não é isso que esperamos de um governante, de um Estadista, em um momento como este, mas sim humildade e serenidade. Numa guerra, não se aceita transferir responsabilidade a outros”, expressou o governador.
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“Aqui em Goiás, a responsabilidade sobre a vida de sete milhões e 200 mil goianos é exclusivamente minha. Eu assumo”, frisou Caiado, destacando que tal prerrogativa lhe é assegurada pela Constituição Federal.
“O meu decreto vai prevalecer em Goiás”, disse ele, em entrevista. O governador entendeu que não é tratado como aliado pelo presidente e rechaçou o chamado do presidente para a volta à “normalidade”. “No Estado de Goiás, cabe a mim, governador do Estado, neste momento, cuidar da vida do cidadão”, disse.
Um dos pontos que mais enfatizou no pronunciamento foi a tentativa de colocar nas costas dos governadores da crise econômica. “Todos nós sabemos que diante de uma crise dessa proporção, nós temos sim a dificuldades econômicas e sociais. Mas, não jogar a responsabilidade sobre os governadores”, avaliou o governador em confronto direto com o pronunciamento de Bolsonaro. Posteriormente, disse ele, haverá o momento de flexibilização das restrições, no entanto, não é o momento.
Em um dos pontos mais duros, o governador goiano afirmou que “as decisões do presidente da República, no que se diz respeito à área de saúde e Coronavírus não alcançam o Estado de Goiás. As decisões de Goiás serão tomadas por mim e decisões lavradas pelo Organização Mundial da Saúde e pelo corpo técnico do Ministério da Saúde”. Na prática, cria-se uma crise institucional e acirra o conflito político, mas ao mesmo tempo revela como o pronunciamento do presidente não teve, na visão dele, respeito aos governadores aliados.
“Não cabe a mim responder sobre outros líderes políticos”, declarou Caiado ao ser questionado sobre a manutenção do Ministro da Saúde, Luis Henrique Mandetta (DEM), no cargo.
“Passei a noite toda conversando com a minha consciência”, disse Caiado antes de tomar a decisão do rompimento com Bolsonaro.
Caiado foi elogiado pelo governador de São Paulo, João Dória, pela postura de manter a quarentena em Goiás. Os governadores do Brasil farão uma videoconferência na tarde de hoje e o pronunciamento de Bolsonaro estará na pauta principal, pois recomendou o fim da quarentena contra o Coronavírus.