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O mundo pós-pandemia conhecerá a distância que separa os desiguais

No contexto geral da pandemia, podemos perceber que a disseminação da Covid-19 esteve fortemente relacionada às desigualdades estruturais-sociais. (Foto: Divulgação)

A pandemia do novo coronavírus desencadeou um grande contexto marcado por tamanhas desigualdades econômicas, sociais e culturais. Portanto, a pandemia acentuou ainda mais a distância que separa os desiguais. Até mesmo os trabalhos remotos também excluiu vários grupos profissionais, principalmente aqueles com menor conectividade, assim, contemplou apenas 38% da força do trabalho.

Nos grandes centros urbanos, onde se concentram maior parte dos deslocamentos para o trabalho, também concentram a maior taxa de óbito.

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O professor da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Haddad, disse durante um seminário on-line promovido no final de outubro pela Fapesp e pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP) que, ”no mundo pós-Covid, testemunharemos o surgimento de novas geografias de descontentes, reforçadas por disparidades intraurbanas e inter-regionais, principalmente nos países em desenvolvimentos”, afirma.

No contexto geral da pandemia, podemos perceber que a disseminação da Covid-19 esteve fortemente relacionada às desigualdades estruturais-sociais e espaciais.

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Assim, de acordo com o pesquisador Eduardo Haddad, a pandemia teve efeito mais intenso em famílias pobres nas áreas metropolitanas do Sul Global,, afetando fortemente os bairros que possui grande ocorrência de trabalho informal.

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Conforme matéria da Agência Fapesp desta quinta-feira (11), aqui no Brasil o presidente Jair Bolsonaro rejeitou publicamente o risco associado à pandemia e posicionou-se, assim como o então presidente Norte-Americano Donaldo Trump. De acordo com a matéria, tanto Donaldo quanto Bolsonaro contrariou os métodos impostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o distanciamento social e o uso de máscara.

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Tendo uma visão ampla, percebe-se que, durante um bom tempo, grande parte das sociedades pareceu ignorar o perigo e apoiar os dois presidentes.

Os desafios da pandemia

O impacto da pandemia afetou também o setor de transportes. Ciro Biderman, professor dos programas de Graduação e Pós-Graduação em Administração Pública e Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp), informou que até 2013, as tarifas de ônibus aumentavam sistematicamente acima da inflação. As manifestações contra a majoração das tarifas, ocorridas naquele ano, impediram, em certa medida, que isso continuasse acontecendo, o que aumentou a pressão sobre o sistema.

O professor explica que nessa via, surgiu um fenômeno novo, que foi a emergência do transporte por aplicativo. ”No transporte por ônibus, as viagens curtas subsidiam, na prática, as viagens longas. E a adoção do transporte por aplicativo fez cair exatamente a demanda por viagens curtas”, explica Ciro.

Raquel Rolnik, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) e coordenadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), esmiuçou em sua fala como e por que a pandemia afetou de forma distinta os diferentes territórios. E contestou a resposta simplista que associa estritamente à pobreza a maior incidência de casos e óbitos.

“A primeira coisa que apareceu nos debates públicos foi a ideia de que ‘onde tem favela tem COVID’. Essa ideia dialoga com o reconhecimento das desigualdades, das condições precárias vividas por grandes parcelas da população, mas não se verifica na prática. Já vimos esse tipo de explicação em outros momentos da história e ela esconde uma espécie de criminalização de certas formas de morar que, no pós-pandemia, justificaria a demolição de determinados espaços”, disse.

Segundo Raquel, a correlação mais clara mostrada pelas pesquisas foi com a mobilidade urbana. Áreas que concentram o maior número de saídas para o trabalho foram também as que concentraram o maior número de óbitos.

Desigualdade tecnológica

Pesquisadores mostraram que existem conflitos que não podem ser resolvidos de maneira racional, sentando-se ao redor de uma mesa. “Há conflitos irreconciliáveis, posições tão opostas que é impossível chegar a um consenso. Um modelo genérico e pretensamente universal, como o das cidades inteligentes, é muito difícil que dê conta de realidades tão complexas.”

Mas o que de fato aconteceu? Mais de 70% das pessoas ocupadas nas classes A e B puderam aderir ao trabalho doméstico. Porém, nas classes C, D e E, a adesão não passou de 28%. Também houve uma grande disparidade em relação ao tipo de dispositivo utilizado para a realização do trabalho remoto. Enquanto 77% das pessoas ocupadas nas classes A e B utilizaram o computador, laptop, notebook, nas classes D e E as pessoas tiveram que recorrer ao celular”, apontou.

A síntese das quatro apresentações é que, se a ideia de pós-pandemia parece apontar para o futuro, o que se verifica de fato é a persistência do passado – um passado de desigualdades que a COVID acentuou, em vez de arrefecer.

As informações são da Agência Fapesp desta quinta-feira (11)

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Leonardo Calazenço: