O deputado Luis Miranda (DEM-DF) acusou o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), de ter ameaçado pedir a demissão do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, caso ele não liberasse verbas para emendas de parlamentares.
A afirmação foi feita em depoimento à Polícia Federal, na semana passada, no inquérito que investiga se o presidente Jair Bolsonaro prevaricou ao não pedir investigação após ser informado por Miranda de suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin. A PF abriu inquérito para investigar se Bolsonaro prevaricou, em julho. A investigação foi aberta a pedido da Procuradoria-Geral da República, e autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado já havia mencionado o episódio, em 12 de julho, no programa Roda Viva, da TV Cultura, mas, na ocasião, ficou em silêncio quando questionado sobre o envolvimento do presidente da Câmara.
À PF, Miranda disse ter ouvido de Pazuello que havia “sacanagem” no Ministério da Saúde desde sua chegada à pasta, e que no ano passado sofreu “uma pressão tão grande” que não sabia como resolver. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão.
Miranda relatou ter perguntado quem era o “cara” que o teria pressionado. Pazuello teria respondido, na versão do deputado: “Arthur Lira botou o dedo na minha cara e falou assim: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’. Porque eu não quis liberar a grana para listinha que ele me deu dos municípios, lugares que ele queria que recebessem. Ele bota o dedo na minha cara”.
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Miranda também declarou ter questionado Pazuello se Bolsonaro sabia da pressão. “Ele disse: ‘Lógico que o presidente sabe, falei para o presidente’”. Miranda relatou à PF que, diante de sua reação de espanto, o general teria respondido: “Luis, eu não duro essa semana, eu tô fora. Eles vão me tirar, cara. O cara falou que vai me tirar”. Ainda segundo o deputado do DEM, o ex-ministro afirmou que a pressão de Lira estava relacionada ao “pixulé” – uma referência a propina.
‘Foro adequado’
Por meio de nota, Arthur Lira afirmou que, “respeito das declarações dadas pelo deputado Luís Miranda, as mesmas devem ser respondidas pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello”. “Sobre as demais informações propagadas, o deputado deverá responder no foro adequado, que é o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados”, diz o comunicado do presidente da Casa.
Ao deixar o Ministério da Saúde, em março, Pazuello ligou a sua demissão a um “complô de políticos” interessados em verbas públicas e “pixulé”. Na ocasião, ao se despedir do cargo, o general disse que desagradou a interesses ao não distribuir recursos com base em critérios políticos.
Afirmou que recebeu uma lista de municípios que deveriam ser priorizados, mas não detalhou de onde partiram essas pressões. Disse, ainda, que não atendeu aos pedidos. Pazuello comandou a Saúde entre 16 de maio do ano passado e 23 de março deste ano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Por Lauriberto Pompeu e Julia Affonso
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