Por Carlos Brickmann – Texto originalmente publicado no Chumbo Gordo, de 10/09/17
Há gente, sem a qual uma ladroeira desse porte seria inviável, festejando a liberdade. Estão enganados: o tesouro em dinheiro vivo encontrado no apartamento do amigo de Geddel traz o “Abre-te Sésamo” de investigações que poderão chegar a resultados espetaculares. Esqueçamos os dólares e euros: nossa moeda (e nosso tema) é o Real. Os quase 43 milhões de reais.
Imaginemos que o caro leitor tenha fundos para sacar R$ 30 mil de sua conta no banco. Não basta dirigir-se ao caixa: é preciso ligar antes, marcar hora, porque o banco não armazena grandes quantias. Sua transação será comunicada às autoridades e pode entrar nos cruzamentos de informações do seu Imposto de Renda. Aliás, essa comunicação às autoridades é feita a partir de retiradas, cheques ou remessas de R$ 5 mil em diante.
Como ensinou Deep Throat, o delator que ajudou os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward a decifrar o escândalo de Watergate, que derrubou o presidente americano Richard Nixon, siga o caminho do dinheiro. Como é que Geddel pôde juntar R$ 43 milhões sem explicações?
Ou os bancos não informaram as autoridades ou as autoridades fecharam os olhos. Nos dois casos, a falha é suspeita. Não se diga que os corruptores já mandaram as propinas em dinheiro vivo: grandes empresas fazem transferência bancária, pagam em cheque, emitem boletos. Esta é a hora de seguir o caminho do dinheiro. Chegarão aos bancos, ao Governo, a ambos?
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Sonho impossível
Joesley tinha um sonho: fazer a delação premiada antes de ser preso, ficar livre, levar suas empresas para os Estados Unidos (talvez a holding J&F para a Irlanda, onde a tributação é mais civilizada), viver no Primeiro Mundo. Acontece que o acordo da delação prevê a perda dos benefícios em caso de omissões ou falsidades. Seus bens podem ficar indisponíveis. Ele e as empresas podem ser acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. As ações podem ser leiloadas para cobrir multas e prejuízos. O segundo maior acionista do grupo, o BNDES, passaria a controlador).