As maiores fabricantes de carros do mundo divulgaram recentemente os seus números de vendas de 2017, mas ainda assim é difícil saber quem ficou na primeira posição mundial.
Em 2016, por exemplo, a alemã Volkswagen bateu a japonesa Toyota depois de uma longa discussão entre economistas e empresários sobre os dados apresentados e a definição de “carro” – que é fundamental para responder a questão.
Em 2017, o novo conglomerado Renault-Nissan-Mitsubishi reclamou o título de maior vendedor de carros do mundo. O grupo nipo-francês adquiriu a Mitsubishi no ano anterior e adotou esse nome em setembro. Ele ainda reúne outras dez marcas, como Dacia, Datsun, Infiniti e Renault Samsung Motors.
Combinadas, as empresas dizem que venderam 10,6 milhões de automóveis de passageiros e comerciais leves em 2017 – o que a tornou a maior montadora do planeta.
Mas a discussão continua: a Volkswagen diz que vendeu 10,7 milhões de carros em 2017 – e alguns economistas insistem em considerar a empresa alemã na primeira posição.
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Há vários tipos de cálculos de veículos para diversos fins: no Brasil, a Fenabrave divulga relatórios mensais de produção de carros baseados nos dados produzidos pelas próprias montadoras. Cidades como São Paulo, em outra perspectiva, usam aplicativos para consultar multas pela placa de cada automóvel registrado. Quando reunidos, os números não tendem a concordar.
Funcionar no topo das vendas globais de automóveis depende do tipo de ranking analisado, contou a head do mercado de veículos da consultoria britânica BMI Research, Anna-Marie Baisden, ao jornal The Guardian. Alguns meios de imprensa colocaram o grupo Renault-Nissan-Mitsubishi como o que mais vendeu carros leves em 2017, deixando a Volks na segunda posição. Porém, essa conta exclui os chamados veículos pesados dos dados publicados pela montadora alemã.
Carros pesados usualmente significam caminhões e ônibus, o que seria razoável: afinal, eles não são carros. Mas a Volks inclui esse tipo de automóveis entre suas vendas globais totais. Assim, outros meios levam em conta os dados e põem a VW no topo mundial de vendas, à frente da Renault-Nissan-Mitsubishi.
Para dar mais complexidade à confusão, as montadoras e os países costumam variar as definições de carros leves e pesados. Um exemplo é o famoso SUV – ou utilitários esportivos, no caso do Brasil. É um caminhão leve ou um carro? Segundo Anna-Marie, depende do lugar em que o cliente vive e qual marca ele está dirigindo.
“SUVs se tornaram muito populares, então muitos deles são feitos basicamente com a mesma estrutura de carros leves”, diz ela.
“No entanto, nos EUA alguns SUVs contam como caminhões. Em Cingapura, na Malásia e na Tailândia, a Toyota Hilux, por exemplo, é uma caminhonete registrada como caminhão ou como veículo comercial leve, enquanto a Toyota Fortuner usa a mesma plataforma, tem um design similar, mas é considerada um SUV de passageiros”, completa.
A situação não acaba por aí: vans, por exemplo, são sempre contabilizadas como veículos comerciais, exceto se elas são minivans, como a GM Spin ou a Fiat Dobló, que podem carregar até oito pessoas. Também ranqueadas como caminhonetes ou caminhões leves estão a GM Silverado, independentemente se elas são usadas por pequenos negócios ou para transporte privado.
“Para facilitar, seria possível tirar apenas os dados de carros de passageiros, conforme a definição dos próprios fabricantes – mas então seria necessário fazer esse exercício para cada conglomerado e suas marcas”, explicou Derryn Wong, editor da revista britânica CarBuyer, ao jornal The Guardian.
Enfim, qual a maior montadora do mundo?
Tirando caminhões pesados e ônibus dos números de vendas fica mais fácil comprar apenas o mercado de carros leves, diz Anna-Marie Baisden. “Seria mais relevante para o consumidor médio, e é nesse ponto que nós veriamos a Renault-Nissan-Mitsubishi subir nos rankings”, contou ela.
“A aquisição da Mitsubishi em 2016 significa que eles possuem agora mais carros leves para incluir nas listas finais de vendas. Não é impensável que eles, combinadas todas as marcas, estejam no topo do mundo. Mas se você incluir cada marca do grupo, e todos os tipos de veículos vendidos, iniciaria um favorecimento a uma empresa como a VW Group, que tem várias marcas distintas como parte integrante: da Seat até a Porsche”, completou.