Texto de Iuri Rincón Godinho, originalmente publicado no perfil do autor no Facebook, sob o título: “RÉQUIEM A JOSÉ MENDONÇA TELES, O GENERAL DO EXÉRCITO NÃO REMUNERADO DA CULTURA”
Faleceu neste sábado, 28, à noite um dos maiores nomes da cultura de Goiás. José Mendonça Teles enfrentou o Parkinson e perdeu a luta aos 82 anos. Seu amigo, o jornalista Jávier Godinho, debochava: “se tem alguma coisa que não dá dinheiro em Goiás, chame o Zé Mendonça que ele vai”. Ele se contentava em ser o general do exército não remunerado da memória goiana.
Sua vida foi fantástica e vitoriosa, pois se metia nas coisas que ninguém imagina que existiam. Descobriu os rolos de concreto usados para aplainar as ruas nos anos iniciais de Goiânia. Resgatou do esquecimento o primeiro jornal de Goiás, o Matutina Meiapontense. Escreveu a letra do hino oficial de Goiás. Foi presidente da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico.
Sabia tudo da história de Goiás e de Goiânia. Foi um dos raros casos de pessoa consagrada em vida. Mas o Parkinson o pegou. Há mais de 10 anos publiquei um livro seu, Semeadores de Futuros. Notei uma fragilidade e tremor dele ao subir as escadas da Contato Comunicação. Pensei em contar para sua filha e minha amiga de vida inteira, a artista plástica Alessandra Teles. Mas a vitalidade do Zé era tamanha que esqueci.
O Parkinson o levou a uma cirurgia de alto risco com o mestre Osvaldo Vilela Filho. Depois à cadeira de rodas. Já debilitado pela doença, em junho de 2015 perdeu a esposa, Ana Maria, aquela que sempre lhe deu a tranquilidade para fazer suas loucuras culturais e que todos apostavam que cuidaria do escritor até a morte.
Ainda o visitei algumas vezes no instituto que leva o seu nome , na Rua 24, no Centro, uma casa da qual ele abriu mão pela cultura. Mendonça era assim. Gastava seu dinheiro publicando livros, abastecendo seu carro para gastar seu tempo dando palestras gratuitas sobre Goiás. Um general da cultura.
Em compensação, não havia uma mulher, de qualquer idade, que não se derretesse pelos poemas que declamava. Nem historiador que prescindisse de sua memória e conhecimento. Parecia que ele nascera conhecendo todo mundo importante. Uma vez Zé colocou na cabeça que tinha de levar o primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges, para a Academia Goiana de Letras. Só tinha um problema: a Academia é uma casa de letras e a pessoa precisa ter muitos livros escritos para pleitear uma das 40 vagas. E a concorrência sempre é grande. Venerando nunca pingara uma vírgula num livro.
Mendonça tocou a campainha da casa do ex-prefeito e propôs que ele entrasse na principal casa de letras do Estado. Foi literalmente enxotado. Venerando lhe disse que nunca escrevera livro, não pensava em escrever e nem tinha interesse na Academia.
Zé foi embora cabisbaixo e voltou dias depois com um punhado de escritos esparsos de Venerando: ali estava reunido seu futuro livro. A obra foi publicada e o ex-prefeito ocupou por unanimidade a cadeira número 1, vaga com a morte de Pedro Ludovico Teixeira.
Muito tempo depois que eu e você estivermos mortos, Goiás ainda renderá vivas a José Mendonça Teles, nosso general seis estrelas da cultura goiana.
Leia Também
Leia mais sobre: Cultura / Cultura / Livros e Literatura / Opinião