O empresário goiano José Garrote, CEO do grupo São Salvador Alimentos, descarta a possibilidade de desabastecimento no mercado interno por causa do aumento da demanda por alimentos de países estrangeiros, especialmente China e Estados Unidos. As exportações brasileiras de carne de frango cresceram 5,1% no primeiro quadrimestre deste ano, comparadas com o mesmo período de 2019, segundo levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A tendência, para este mês e os próximos, é de aumento das vendas externas por causa de medidas restritivas adotadas nos EUA para combater a pandemia da Covid-19.
“Tivemos forte crescimento no consumo de alimentos em março no Brasil, mas a situação voltou à normalidade. Alguns segmentos registram até redução em relação ao ano passado. Agora temos o aumento da demanda do mercado externo, especialmente da China e mais recentemente dos EUA. Com a desvalorização do real, os exportadores brasileiros ganharam também maior competitividade. Entretanto, a indústria de alimentação brasileira tem capacidade de garantir, com total segurança, o abastecimento do mercado interno e atender o aumento da demanda de países estrangeiros”, afirmou José Garrote numa conferência realizada pelo banco Itaú BBA sobre a conjuntura e perspectivas para o mercado de frango.
As maiores demandas no mercado externo são por carnes de suíno e de frangos produzidas no Brasil. “A carne de frango é a que menos sofre restrições no exterior e a cadeia da avicultura brasileira está consolidada, é moderna e preparada para atender o aumento da demanda por alimentos. Não existe, enfatizo, nenhum risco de desabastecimento para o mercado brasileiro”, disse Garrote.
O empresário, entretanto, afirmou que ainda é difícil prever o cenário para o segundo semestre. “Aprendemos a lidar com as volatilidades do mercado, com as inúmeras crises que enfrentamos. Mas esta tem sido muito diferente. Ninguém sabe ainda quando vamos, de fato, superar a pandemia da Covid-19”, frisou.
Apesar desta incerteza, o CEO da SSA afirma que a grande maioria das indústrias brasileiras no setor de alimentação se preparou para enfrentar a atual crise. “No caso da nossa empresa, por exemplo, temos estoque (de insumos) para quatro meses de produção. Começamos ainda em fevereiro a nos preparar. Costumo dizer que frango come milho e soja, e não nota de cem reais. Ou seja: decidimos antecipar compras de insumos por um custo menor, garantimos a segurança da nossa produção e temos agora tranquilidade para atender o aumento da demanda dos mercados interno e externo. Com as vendas, fortalecemos o caixa da empresa. Além disso, implantamos mais de 80 novas medidas fitossanitárias nas duas fábricas da SSA para garantimos a qualidade dos alimentos e a segurança dos nossos mais de 7 mil colaboradores”, disse Garrote.
José Garrote acredita que a avicultura brasileira vai sair fortalecida da pandemia do novo coronavírus, à frente no âmbito internacional e também na concorrência com outras proteínas. “Nós tivemos um primeiro trimestre bom, surpreendeu a todos. O quadrimestre ainda deve fechar considerável, mas a visão do segundo semestre ainda é nebulosa por causa da volatilidade do câmbio”, disse. Segundo o empresário, além de o frango ser mais barato e mais resiliente, tem uma vantagem por não ser alvo de nenhuma restrição de ordem religiosa, por exemplo, no mercado externo.
Uma das maiores necessidades dos avicultores nesse momento de crise, segundo o CEO da SSA, é garantir os estoques de milho e soja. “A estratégia é manter um estoque regulador tranquilo, de maneira que você garanta preços mais baixos e possa continuar competitivo”, afirmou. Nesse sentido, Garrote chama atenção para a maior preocupação do mercado com o suprimento de soja, que vem registrando exportações fortes e os produtores estão bem capitalizados. Uma estratégia adotada pela empresa, além de antecipar a compra de insumos, foi a redução no peso dos animais que serão abatidos. O ajuste seria uma forma de reduzir o ritmo de produção para fazer frente aos custos mais altos, afirmou Garrote.
A São Salvador Alimentos investiu aproximadamente R$ 1 bilhão nos últimos dez anos para se consolidar como uma das maiores indústrias de alimentos do Centro-Oeste brasileiro. Com sede em Itaberaí (GO), é uma das maiores produtoras de proteína animal do Brasil, tendo como marcas a SuperFrango, especializada em cortes congelados e resfriados, embutidos, empanados e industrializados de frango, e a Boua, marca generalista que comercializa produtos de alto valor agregado, como requeijão cremoso, mussarela, presunto, linguiça calabresa, filé de tilápia, vegetais congelados e muitos outros.
A SSA inaugurou neste ano uma segunda e moderna fábrica no município de Nova Veneza (GO), onde investiu o total de R$ 250 milhões na primeira etapa. Atualmente a empresa abate em média 400 mil aves por dia e comercializa seus produtos para mais de 25 mil clientes em nove Estados e no Distrito Federal e exporta para 67 países das Américas do Sul e Central, Europa, Ásia e África. Atualmente emprega mais de 7 mil trabalhadores, entre colaboradores e terceirizados diretos. A sua receita líquida no ano passado ultrapassou R$ 1,6 bilhão, sendo que cerca de 30% foram provenientes das suas exportações.
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