O presidente da Comissão de Médicos da CBF, Jorge Pagura, criticou a decisão da Conmebol de autorizar a presença de torcedores em estádios a partir das oitavas de final das Copas Libertadores e Sul-Americana. Segundo ele, o retorno do público precisa ser pensado com mais cautela.
“Na CBF não fazemos nada a ‘toque de caixa’. Setembro parece uma data mais viável. Se a situação piorar ou melhorar, essa estimativa pode mudar”, explicou Pagura em entrevista ao Estadão “Eles (Conmebol) procuraram o departamento médico da CBF e não concordamos com a presença de público na Copa América. Depois, vimos o que aconteceu”, acrescentou.
O médico disse que a entidade brasileira montou um grupo para análise de índices sobre o cenário epidemiológico no País. “Estamos trabalhando internamente, mas, claro, depois vamos ouvir clubes, federações e as autoridades sanitárias. Um grupo nosso estabeleceu uma ‘cesta’ com vários dados, incluindo índices de mortalidade, contaminação, transmissibilidade e imunidade.”
A posição da CBF vale para as competições que ela organiza, no caso o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Em relação à Libertadores e à Copa Sul-Americana, nada pode fazer. Por isso governadores, prefeitos, dirigentes esportivos e profissionais da saúde discutem também a retomada do público. A liberação de público anunciada pela Conmebol no último domingo depende também da ratificação das cidades que receberão os jogos.
SP e RJ vetam público, MG e DF liberam
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O público em São Paulo, por exemplo, deve esperar mais um pouco para frequentar a arquibancada. Na semana passada, em entrevista ao podcast “Inteligência Ltda.”, no YouTube, o governador João Doria (PSDB) disse que o retorno do público deve acontecer “provavelmente em outubro, com lotações gradualmente expandidas” A Secretaria Municipal da Saúde da capital paulista informou que segue as diretrizes do “Plano São Paulo”, de responsabilidade do governo estadual.
Os mineiros já se preparam para voltar aos estádios. O governo de Minas Gerais anunciou na semana passada que os municípios na “onda verde” podem receber público em jogos de futebol. A Secretaria estadual de Saúde mineira se reuniu na quinta-feira (15) com a Federação Mineira de Futebol para discutir as medidas sanitárias a serem realizadas durante o retorno aos estádios.
O governo do Distrito Federal publicou decreto autorizando a liberação do público nos estádios apenas para pessoas imunizadas contra a covid-19. O limite é de 15 mil torcedores, 25% da capacidade do local.
O anúncio motivou a mudança para Brasília da partida entre Flamengo e Defensa y Justicia, da Argentina, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Apesar de ter liberado 10% da capacidade do Maracanã ao público na final da Copa América, a prefeitura do Rio de Janeiro não autorizou o retorno para os rubro-negros.
O prefeito de João Pessoa (PB), Cícero Lucena (PP), afirmou na sexta-feira que o comitê científico avalia um retorno gradual aos estádios no dia 30 deste mês, com 20% dos ingressos vendidos “Acredito que no próximo decreto vamos ocupar o estádio com pelo menos 20% do público, com todos usando máscaras”, disse Lucena, em entrevista à TV Cabo Branco, afiliada da TV Globo na Paraíba.
Na madrugada de quinta-feira, a Câmara de Porto Alegre aprovou a autorização da presença de público em eventos esportivos. Para a liberação ocorrer, o público não poderá ultrapassar 25% da capacidade prevista no Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) para cada setor ou área do estádio, considerando o público e os trabalhadores necessários para o evento.
A prefeitura da capital gaúcha já tinha divulgado a intenção de retornar com o público nos estádios. Foi enviado um documento ao governo estadual com o plano de retomada, que prevê a liberação total a partir de 27 de setembro.
O Estadão entrou em contato com o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
O debate sobre presença de público nos estádios acontece em meio à queda no número de mortes por covid-19. Na sexta-feira, o Brasil registrou 1.450 novos óbitos, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, do qual o Estadão faz parte. A média móvel alcançou as 1.246 mortes nos últimos sete dias, considerada ainda alta por especialistas.